Por Stela Campos
É difícil imaginar um executivo do mercado financeiro avesso ao risco. Na verdade, diante da maior parte das situações eles costumam ser bem destemidos. A exceção acontece com o próprio bolso. Na hora de receber, eles preferem um pagamento até mais modesto em dinheiro vivo a ter que esperar alguns anos por uma bolada de remuneração variável na forma de ações ou bônus.
Essa é uma das conclusões de uma pesquisa conduzida pela PwC junto com a London School of Economics (LSE), que ouviu a opinião de 1106 executivos do primeiro escalão de grandes empresas de diversos países, incluindo 56 brasileiros. No levantamento, 72% dos dirigentes afirmaram preferir um salário menor do que receber um bônus com valor mais alto no futuro.
O estudo revela que os incentivos de longo prazo, amplamente usados pelas companhias como instrumentos para segurar esses executivos na casa, na verdade podem não ser tão eficazes assim. "É preciso ter cuidado, uma vez que programas alavancados talvez não tenham uma grande força de atração e retenção de talentos", diz João Lins, sócio da PwC Brasil e líder de consultoria em gestão de pessoas.
No Brasil, assim como em outros países emergentes, a situação é ligeiramente diferente. Isso porque, nesses locais, a prática de remuneração variável ganhou força nos últimos três anos por conta do aquecimento do mercado. Os executivos, assim, mostraram-se dispostos a se arriscar para ganhar mais no futuro. "Aqui, ainda existe espaço para esse tipo de pagamento crescer", diz Lins.
Entre os vários modelos de incentivos de longo prazo, como o bônus diferido (a ser pago no futuro, mas por resultados obtidos no momento) e o bônus de longo prazo (atrelado ao cumprimento de metas futuras), aqueles relacionados a ações ainda são os menos atraentes para os brasileiros. Segundo Lins, as chamadas stock options (programa em que o profissional tem o direito de adquirir ações da empresa no futuro, a um preço predeterminado), por exemplo, não cresceram mais pela própria limitação do mercado de capitais brasileiro. "Ele ainda é bastante volátil e de porte pequeno. Esse plano faz pouco sentido para quem negocia ações apenas no Brasil."
Outro dado da pesquisa indica que quanto mais tempo os executivos precisam esperar para receber o bônus, menor o valor percebido do prêmio. No geral, o estudo revela que eles gostam de pacotes simplificados e metade dos entrevistados disse que não aceitaria uma oferta mais complexa, mesmo se o valor total fosse mais alto.
A faixa etária também influencia na escolha dos pacotes de remuneração. O estudo mostra que entre 40 e 60 anos de idade, os profissionais estão menos dispostos a aceitar pacotes de risco. Até os 39 anos e depois dos 60, contudo, eles têm interesse em arriscar. "O executivo mais velho já construiu seu patrimônio. Ele pode pensar em ganhar bônus ou em exercer o direito de ações no futuro como uma forma de melhorar sua aposentadoria", afirma Lins. Outro dado curioso é que as mulheres, segundo o levantamento, também tendem a correr menos riscos.
Embora isoladamente o incentivo de longo prazo não seja capaz de segurar um executivo no emprego, Lins ressalta que ele funciona como um fator de motivação. "Quem recebe ações, mesmo que para usufruir no futuro, acaba se sentindo parte de um time diferenciado dentro da empresa. Isso é bastante positivo."
Comparar o próprio pacote de remuneração com o dos colegas também influencia essa percepção. Isso significa que os executivos aceitariam receber menos em termos absolutos, por exemplo, desde que esse valor fosse superior ao de outras pessoas que ocupam o mesmo cargo.
Já uma redução na remuneração é vista com bons olhos pelos pesquisados quando surge a oportunidade de trocar seu emprego por outro que faça mais sentido para eles. Nesse caso, os entrevistados topariam em média um corte de cerca de 30% no salário - sendo que o menor desconto é na Índia (24%) e o maior nos Estados Unidos (35%).
Fonte: www.valor.com.br
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