Por Paula Furlan
Trabalhar em casa parece ideal para muitas pessoas. As empresas também começam a perceber na modalidade de home office uma forma de reduzir custos e evitar a necessidade de uma estrutura física. Os benefícios vão além da mera flexibilidade de horários. O home office evita a perda de tempo do funcionário com o trânsito e transporte em geral, ajuda na melhora da qualidade de vida ao facilitar o trato com os filhos, tarefas domésticas, atividades físicas e outros afazeres.
‘O principal objetivo do home office é unir comodidade com a mesma responsabilidade dos profissionais que atuam diretamente nas empresas”, explica Mari Gradilone, sócia-diretora do Grupo Virtual Office, empresa de escritórios virtuais.
O primeiro passo, segundo ela, é escolher o ambiente ideal para trabalhar. Nada de sair espalhando os documentos pela casa toda. A organização será fundamental nesta nova etapa. Escolha um único cômodo para se tornar seu Home Office, de preferência que tenha uma entrada independente e que fique o mais separado possível da agitação da casa, principalmente, se você tiver crianças.
Se durante o dia, sua casa tem grande movimentação de pessoas, crianças e jovens, será importante também incluir a adoção de tratamento acústico nas paredes, para que o barulho não atrapalhe seu rendimento ou seja perceptível em uma ligação telefônica. O atendimento telefônico pode ser realizado por uma empresa especializada, dessa forma, evita que seus filhos atendam o telefone com um simples “Alô”, em vez de usar o nome da empresa. “O grande destaque do serviço home office é o atendimento telefônico. A pessoa trabalha em casa, mas não precisa necessariamente atender suas ligações de casa. Com esse serviço, evitamos que outras pessoas ou ambientes com barulhos atrapalhem as ligações. A empresa poderá transferir todas as ligações para o telefone da casa, celular ou onde o cliente preferir”, ressalta a Mari.
O endereço residencial também não deve ser usado para cartões de visita, correspondências comerciais e não podem ser usados para registro de CNPJ. Os escritórios virtuais oferecem esses serviços e ainda disponibilizam um espaço alugado por hora caso o empreendedor precise agendar reuniões. O espaço residencial dá uma impressão de improviso e pode deixar o cliente inseguro.
Um estudo elaborado pela HAYS Recruiting experts worldwide, mostra que 31,2% das empresas já adotam o sistema de home office. Dentre as principais razões apontadas pelas companhias, a preocupação em garantir a retenção de talentos e oferecer melhor qualidade de vida aos funcionários apareceu em 72,7% das respostas. Na sequência estão soluções para limitação física 60,3% e pelo alcance de metas de sustentabilidade 19,8%.
A pesquisa aponta que 69,3% das empresas consideram os resultados entregues pelos adeptos dessa modalidade são semelhantes aos dos que ficam sediados na empresa. Essa nova tendência já é percebida em setores de serviços com 22,9%, bens de consumo com 13,7%, Farmacêutico 9,7% e Telecomunicações 5,7%.
“É uma tendência do mercado nacional que também pode ser oferecida ao profissional como forma de benefício”, afirma André Magro, gerente da Hays Human Resources em São Paulo. O gerente ainda explica que é preciso apresentar alto nível de concentração para que o trabalho não seja prejudicado. As empresas multinacionais, por já possuírem essa cultura, demonstram maior aceitação em adotar o modelo de home office. “Áreas que não têm dependência com outros setores de negócio da empresa conseguem atuar melhor fora do escritório, como é o caso dos profissionais de venda. Isso acontece porque eles possuem metas tangíveis e precisam atingi-las para apresentar resultados à empresa”, conclui.
Mas a modalidade de trabalho em casa requer alguns cuidados, como algumas regras em relação a metas e horários, para que o fato de estar em casa não deixe outros assuntos atrapalharem o trabalho ou, ainda, trabalhar muito por não ter horário definido.
Para a diretora estratégica da Eldevik! Agência de Comunicação, Edvania Eldevik, o funcionário que trabalha em casa, na realidade, opta por uma melhor qualidade de vida para conciliar trabalho e filhos, afazeres domésticos ou outros jobs para aumentar o orçamento. “Na empresa temos um caso de home-office. Uma funcionária que teve que mudar para outro estado e encontramos essa opção para que ela continuasse trabalhando conosco. Considero um case de sucesso. Quando a empresa disponibiliza essa condição, o contratado mostra comprometimento e empenho nos cumprimentos dos prazos, ou seja, vejo que há reconhecimento pelo contratado”. Ela ressalta também a confiança depositada num trabalho que não é ‘monitorado’ diariamente. No entanto, há redução de proventos como vale transporte e refeição, entre outros.
A funcionária em questão é a coordenadora de conteúdo Milena Parente, que trabalha em casa desde outubro de 2011, que diz que a vantagem de estar em casa é conseguir maior concentração para escrever as matérias, pesquisar assuntos e se dedicar mais profundamente. Mas ressalta que as principais dificuldades estão relacionadas ao próprio trabalhador, “é preciso ter muita disciplina para não deixar que outras situações alheias ao trabalho tirem sua atenção e demandem mais tempo que o necessário”, explica. Outro ponto negativo, segundo ela, é que você pode ter uma carga horária diária maior para desempenhar suas atividades
Contras
Para a diretora da Eldevik!, a primeira dificuldade é a de conseguir um colaborador com esse perfil e mudar a forma de trabalho para um contrato de prestação de serviços. Outra questão é que, nesse formato de trabalho, o colaborador não tem que cumprir horário e faz o serviço no momento que achar melhor; ou seja, dentro dessa proposta o foco é cumprimento dos prazos e não estar disponível no horário comercial. A questão é que se aparecer alguma emergência não pode garantir que conseguirá cumprir.
A publicitária Gabriela Souza trabalha como freelancer e afirma que para ela o trabalho em home office significa mais qualidade de vida e rendimento no trabalho, mas diz que sua jornada de trabalho é mais longa. “É inegável a qualidade de vida que se tem ao trabalhar em home office, posso me alimentar melhor, praticar exercícios, resolver problemas pessoais com calma. Mas por não ter horário fixo, acabo trabalhando mais, pois na frente do computador sempre me pego resolvendo assuntos do trabalho”.
Como implantar?
A advogada trabalhista Dra. Maria Lúcia Benhame dá algumas dicas para quem quer implantar o home office na empresa.
•A implantação de home office deve ser cuidadosa, pois a única regulamentação existente é o trabalho em domicilio previsto na CLT.
•O trabalho em domicílio é previsto no artigo 6 º da CLT, que somente o descreve, aplicando-se todas as regras celetistas referentes ao contrato de trabalho. Assim, todos os capítulos da CLT aplicam-se a esse tipo de trabalho, desde que presentes os requisitos, pelo que aplica-se o capítulo relativo à jornada de trabalho.
•Primeiramente, para que tal alteração não seja prejudicial ao empregado, o que é vedado por lei (art 468 da CLT), nenhum custo deve ser arcado pelo empregado.
•O trabalho em domicílio é previsto no artigo 6 º da CLT, que somente o descreve, aplicando-se todas as regras celetistas referentes ao contrato de trabalho.Assim, todos os capítulos da CLT aplicam-se a esse tipo de trabalho.
•É necessária uma regulamentação no aditamento contratual das despesas que serão de responsabilidade da empregador e forma de custeio- indenização ou custeio direto, sendo este último mais aconselhável.
•A empresa deve assegurar todos os direitos do funcionário, como parte médica, orientação de segurança e medicina do trabalho, fornecimento de móveis ergonomicamente adequados a função, pagamento de jornada e horas extras e cumprimento de normas coletivas. E, se for o caso, indenização das despesas com o uso da residência para funcionamento do Home Office.
•A empresa deve fornecer todas as ferramentas que possibilitem o correto desenvolvimento do trabalho - notebook ou PC impressora, fax, material de escritório.
•Preocupação com condições de segurança e medicina do trabalho com eventual fornecimento de mobiliário para o trabalho, ou no mínimo treinamento documentado de forma de trabalho com respeito às condições de ergonomia.
Franquia em casa
Existem franquias que não necessitam de ponto comercial para funcionar. É o caso da EcoJardim. O cliente que tem um jardim que precisa de cuidados, liga para a franquia e pede que um profissional seja enviado até a sua residência para avaliar o jardim em questão. Ou seja, a empresa vai até o cliente. Por isso não é necessário ter uma loja, alugar uma sala em prédio comercial, etc.
Com a Seguralta o sistema é parecido. O corretor de seguros da Seguralta recebe o contato do cliente e vai até ele para vender os produtos (seguro de vida, seguro de carro, etc). Ambos trabalham em casa, mas representam suas respectivas marcas, diferentemente de autônomos.
De acordo com o estudo, a prática é mais adotada por profissionais que ocupam a posição de gerente 78,4%, em seguida estão coordenadores 56,7%, diretores 48,5% e analistas 44,8%.
Fonte: consumidormoderno.uol.com.br
Fonte da imagem: gettyimages