Não basta incluir, é preciso desenvolver!
A inclusão de profissionais portadores de necessidades especiais no ambiente de trabalho teve um grande avanço nos últimos anos. Além de projetos específicos de admissão, as empresas também têm se preocupado na adequação do local de trabalho para este fim, investindo no desenvolvimento de seu potencial e criando reais oportunidades no mundo corporativo.
Mas essa ainda não é uma realidade expressiva. Embora a lei esteja em vigor desde 1993, há mais de quinze anos, existem muitas lacunas no processo de inclusão destes profissionais que tornam distante o que seria um panorama ideal para a questão. Fora isso, muitas organizações com mais de 100 colaboradores, conforme determina a lei, não cumprem a cota mínima exigida de 2% a 5% dos seus cargos com beneficiários reabilitados ou portadores de necessidades especiais.
Para Mônica Andrade, Analista de Recursos Humanos da Todeschini, já é possível notar um progresso, mas ainda são muitas as barreiras que dificultam tais contratações. “A dificuldade em recrutar profissionais qualificados é um dos obstáculos enfrentados pelas empresas, mesmo com a existência de vagas. Outra dificuldade, é a preparação do ambiente físico organizacional para recebê-los. Em algumas situações, o próprio bairro onde esta empresa está localizada não é preparado, por exemplo, para uma pessoa que precisa utilizar cadeira de roda”, menciona.
No entanto, mesmo com a carência de melhorias, para Mônica o principal fator é o empenho que a empresa tem em facilitar o cumprimento da lei. “Mesmo com os problemas mencionados, existem empresas que atingem a cota prevista em lei, pois utilizam estratégias de seleção exclusivas para este público, tais como, o recrutamento por intermédio de instituições especializadas em portadores dessa atenção especial, programas de capacitação profissional na própria empresa para outros cargos em aberto ou ainda a criação de projetos de responsabilidade social com foco na formação destes colaboradores”.
Ao abrir uma vaga com este perfil a empresa deve ter atenção e avaliar cuidadosamente a oportunidade. “É necessário verificar o tipo de vaga que a empresa colocará à disposição e a partir desta pesquisa, avaliar qual profissional se adapta de acordo com suas necessidades”, explica Fábio Christófaro, advogado especialista na área trabalhista do Gaiofato Advogados Associados. “A organização deve investir na recepção destes colaboradores e aplicação de treinamentos, além de acompanhar o trabalho junto ao departamento de RH e, principalmente, aos superiores diretos, que estão no dia a dia com estes trabalhadores”.
A preparação da empresa deve ser o primeiro fator levado em consideração, não apenas na estrutura, mas também na conscientização dos demais funcionários, para que não ocorra nenhuma dúvida ou constrangimento. Muitos profissionais nunca tiveram contato direto ou mais frequente com um portador de necessidade especial, por isso, podem encontrar dificuldades ou até receio em se relacionar.
Os paradigmas devem ser quebrados para que não haja distanciamento ou diferença entre um ou outro profissional. “É importante sensibilizar em primeiro lugar o gestor da área que irá receber o profissional com deficiência, pois, quando não há sensibilização a resistência do líder se inicia desde o processo seletivo”, ressalta Mônica.
“Existem treinamentos que oferecem resultados significativos, como por exemplo: vendar os olhos de um participante e pedir para que ele realize alguma atividade ou utilizar uma cadeira de rodas para tentar desempenhar alguma tarefa. Estas dinâmicas fazem com que as pessoas entendam as necessidades desses profissionais que irão chegar. Após o treinamento, deve-se avaliar a reação dos colaboradores para identificar se o treinamento foi eficaz, e consequentemente se a empresa está preparada para a recepção de tais pessoas”.
Dificuldade desde cedo
O problema enfrentado no mercado de trabalho é apenas uma das muitas dificuldades no processo de inclusão desse público mais específico. Há que se considerar ainda os recursos financeiros e familiares de cada um, as adversidades proporcionalmente maiores da vida acadêmica e outros aspectos igualmente relevantes que levam o portador de necessidade especial a esse ou aquele patamar de possibilidades e perspectivas profissionais. Para que haja uma real mudança, muita coisa ainda deve ser revista e outras leis terão que ser criadas, para que, enfim, possamos ter oportunidades iguais para todos.
"A dificuldade desses profissionais inicia desde a educação”, enfatiza Mônica. “Muitas escolas e universidades não são preparadas para receber esse público. E vale ressaltar a acessibilidade até as empresas, como: transporte público, as calçadas e ruas, também são barreiras encontradas. Sem contar, a falta de conhecimento das regras da lei de cotas, que mais uma vez dificultam a inclusão destes profissionais no mercado de trabalho”.
Não há como prever o que acontecerá nos próximos anos, no entanto, o que se espera é que realmente as melhorias ocorram continuamente. “A conscientização do empresário, junto à determinação da legislação em relação à contratação de deficientes e o constante aprimoramento dos profissionais de recursos humanos nos treinamentos e reciclagem destes profissionais, seja teoricamente ou na prática, trará, com certeza o país a excelência na relação empregador x empregado com necessidades especiais”, finaliza Fábio.
Fonte: Não basta incluir, é preciso desenvolver!
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